domingo, 27 de maio de 2012

Pequenos males da humanidade: sentimento de posse

Desde o nascimento, e me arrisco a dizer que até antes, somos tomados por uma fúria incontrolável: o sentimento de posse. O feto, em seu lar uterino, já carrega em si a minuscula e imprecisa certeza que aquele lugar lhe pertence. E quando o tiram de lá, ele abre o berreiro. O mundo não é mais dele. Mas aqueles peitos volumosos e cheios de leite são todo dele! Por mais que tenhamos evoluído, os extintos primários do territorialismo sempre estarão presentes na gente - o que é perfeitamente normal e compreensível.

O que acontece é que, quando crescemos e nos relacionamos com as pessoas, passamos a acreditar que as pessoas são nossas. MINHA mãe. MINHA namorada. MEU cachorro. OK, isso serve para facilitar a comunicação, mas não pense que seu namorado é SEU, nem que ele tem a obrigação de dar sempre a preferência a você. É recomendável, of course, que você dê maior parte da sua atenção àquilo que você quer que continue sendo "seu". Porém o mundo é grande, e não podemos usar tapa-olhos. E se todo mundo começar a dizer que "fulano é meu, sicrano é meu", aí fodeu, né? É violento simplesmente pensar que alguém seja inteiramente seu, ou até que algumas partes desse alguém sejam suas...

Uma boa parcela das picuinhas universais se dão por conta do sentimento de posse. As pessoas matam por isso. Às vezes matam o que era seu, em outras matam quem tomou o que era seu. Muitas vezes, até os dois. Alguns até se matam - o que é o mais justo. As pessoas sofrem mais por isso. As pessoas se dedicam tanto a achar que determinada pessoa é sua, que esquecem que elas mesmas pertencem a si. A gente prefere se dar a alguém do que abrir mão de ter alguém. E não se resume à relacionamentos. Um patrão acha que os funcionários são seus. Um profissional de saúde acha que os pacientes são seus.

É a solidão que faz isso, e o mundo tem um vasto arsenal de "forever-alones". Mas não adianta nada "achar" que as pessoas são suas, porque não é essa entrega que define quem gosta de você. O que define isso é... sei lá... elas gostarem de você? As pessoas podem estar de alguém, mas nunca são de alguém. Aprendam a ser felizes sem o sentimento de posse, de vez em quando dá certo.