domingo, 22 de abril de 2012

Felicidade e nostalgia

Era das facilidades. A duzentos e quarenta e dois dias do fim do mundo. Diário de bordo. Eu tenho pensado bastante, preso no oceano das lembranças, perto da ilha deserta do marasmo. Eu tenho pensado que o mundo já foi melhor. Já foi mais difícil, mas, sem dúvida, muito melhor. Estamos na era das facilidades. Podemos nos comunicar com qualquer pessoa, em qualquer lugar, instantaneamente. Podemos ver o que quisermos, onde quisermos. A tecnologia tornou nossa vida bem mais cômoda. A que preço? Aparentemente nenhum. Mas o que não percebemos é que a facilidade traz, contraditoriamente, muita infelicidade. Ás vezes parece que somos masoquistas, mas não; é só que, o que dá mesmo felicidade é a luta por algo.

No medievo, todos os homens só eram felizes na guerra, a guerra realizava o homem. As mulheres tinham uma vida reprimida, mesmo assim podiam ser felizes. As pessoas lutavam pelas coisas, e ficavam felizes por conseguirem concretizá-las. Na época da TV as pessoas ficavam esperando, ansiosas, para ver o clipe de sua banda favorita, quando tinham sorte. Hoje todos podem ver os clipes à hora que quiserem, mas qual é a graça disso? Ninguém liga! Ninguém fica feliz com isso! Pois já dizia alguém: "a ignorância é uma benção", e vejo que ele tinha razão, em um sentido um pouco diferente. Não é que não saber das coisas nos deixe alegres, bobos-alegres, mas as conquistas nos deixam alegres. E na era das facilidades, onde muito pouca coisa pode ser de fato renovada, a vida não é tão feliz, pois a vida já está pronta.

O mundo vai sim acabar... se é que já não acabou. A tristeza traz agressões, agressões ao mundo e às outras pessoas: desmatamento, bullying, mortandade, aquecimento global e etc. A facilidade arruinou o mundo, não porque a facilidade é ruim, mas porque os humanos indolentes se agarraram às facilidades de uma forma criminosa. Sabemos que podemos encontrar alguém online, então pra quê encontrá-lo pessoalmente? Sabemos que podemos mandar uma bomba a quilômetros de distância num alvo milimétrico, então pra quê dialogar? Bem, as guerras são antigas, e isso também acontecia no medievo, seu blogueiro, alguns dizem. E eu digo: com certeza, aquela era outra fase na facilitação das coisas. Como eu tinha dito, o problema não é a facilidade, mas o uso dela. Sabemos que podemos "mexer" nos alimentos, para ficarem mais agradáveis, e até mais vendáveis, por que deixar a natureza cuidar disso? Sabemos que podemos antecipar doenças como anencefalia, então pra quê dar uma chance ao acaso?

Diário de bordo. Não vejo nada à minha frente. Só pó. O que significa? Não sei. O que podemos fazer? Lembrar que somos humanos, e lembrar que coisas fora de moda também podem ser divertidas. Por isso a saudade de um mundo que não vivenciamos... por isso toda essa revolta... Somos o inferno, cheio de boas intenções e decisões completamente equivocadas!